A anistia só se torna viável quando há democracia plena e respeito ao rito institucional; é o caso do Brasil?

Foto: Gabriela Biló/Folhapress - Reprodução
Como lutar por anistia sabendo que o STF a barraria logo de cara? Talvez o foco não deva ser apenas a libertação dos presos de 8 de janeiro, mas sim entender e enfrentar os responsáveis por um sistema que parece ter deixado a democracia para trás.
Vamos direto ao ponto. Vou dizer aqui o que quer falar e menos ainda estão ansiosos por ouvir, por razões óbvias: é desconfortável, confunde, e pode até desanimar atos políticos que não vão na raiz do problema.
Por mais que faça, o choque de realidade pode fazer mais pelos presos políticos do que viagens vazias de efetividade.
Esse pesadelo autoritário brasileiro tem data de nascimento: novembro de 2019.
Em 2025, uma criatura completa 6 anos — um monstrinho mimado que adora dar tapas na cara de quem ousa abrir a boca.
Seis anos de arrogância, de canetadas que mandam calar e de um poder que ri da nossa cara.
Nas últimas semanas, a bandeira da “anistia já” ganhou força, impulsionada por Jair Bolsonaro.
O ex-presidente trocou as manifestações pelo impeachment de Lula por um grande ato em Copacabana, unindo seus apoiadores em torno de um único pedido justo: liberdade para os presos do 8 de janeiro.
O problema é que a conta simplesmente não fecha.
A lógica se impõe ao clamor por justiça, por mais urgente que seja: como brigar por anistia sem antes desmobilizar aqueles que podem derrubá-la? Vamos aos fatos?

Manifestante segura placa pedindo por anistia aos presos do 8 de Janeiro, durante ato em Copacabana (RJ). Foto: Poder 360
- Davi Alcolumbre já entrou em pauta
O presidente do Senado deixou claro que o projeto de anistia não verá a luz do dia. Ele chegou a dizer que essa não é uma "demanda do povo brasileiro". Traduzindo: mesmo que o PL tenha apoio majoritário entre os senadores, sem ir à votação, é letra morta.
- Afinal, estamos em uma democracia?
Parece óbvio, mas vale repetir: o Brasil não vive uma democracia de verdade. Suponhamos que, por um milagre, Alcolumbre e Hugo Motta resolvam pautar o projeto e, por outro milagre, ele seja aprovado no Congresso. O que acontece depois?Eles têm um talento especial para derrubar o que não gosta, sempre com um “inconstitucional” na manga.
Não é chute, é padrão: qualquer coisa que ameace o controle deles leva um carimbo e vai pro arquivo morto.
Gilmar Mendes, o decano que nunca sai de cena, já avisou dia 19 de março de 2025, pra Exame : anistiar “golpistas” é “incogitável”.
E ele fala por um corte que não hesita em dobrar as regras pro lado que convém.
O STF não é só um obstáculo, é o dono do tabuleiro — e enquanto eles mandam, a anistia é só um papel rabiscado sem valor.
Por isso, vale a reflexão: insistir na anistia sem mudar o que está por trás dela é como tentar apagar um incêndio com um copo d'água.
Lula e os ministros do STF que sustentam esse modelo — com decisões que moldam o país de cima para baixo — são peças-chave do regime ditatorial.
Sem enfrentar essa estrutura, sem buscar formas de tirá-los do caminho, qualquer esforço corre o risco de ser apenas simbólico.
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