43 idosos não são 'apenas': Moraes ignora o peso humano por trás das condenações

Publicado em 25 de março de 2025 às 16:34

Ministro usa estatísticas para minimizar o número de idosos condenados, omite, porém, a inocência deles diante das acusações absurdas

Foto: Brenno Carvalho/O Globo

 

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, usou a sessão desta terça-feira (25) para tentar desqualificar as críticas ao tratamento dado pela Corte aos réus do 8 de janeiro de 2023.

Com seu tom autoritário característico, tentou ridicularizar a tese de que idosos e mulheres estariam sendo alvo de punições desproporcionais, comparando-a à crença na Terra plana – uma tática recorrente do magistrado para desmerecer qualquer questionamento legítimo sobre os excessos cometidos nesses julgamentos.

“Se criou (sic) uma narrativa, assim como a que afirma que a Terra é plana, de que o STF estaria condenando velhinhas com a Bíblia na mão, que estariam passeando em um domingo ensolarado por Brasília. Nada mais mentiroso do que isso, as imagens mostram isso”, declarou Moraes

Ao lançar números como se fossem um álibi, ignorou deliberadamente o drama humano por trás de suas sentenças e, mais grave ainda, a inocência dessas pessoas diante das acusações infundadas e dos crimes absurdos dos quais estão sendo injustamente responsabilizadas.

Dos 1.494 processos em andamento, 497 já resultaram em condenações, sendo metade com penas inferiores a três anos, convertidas em medidas alternativas.

Apenas 43 condenados têm mais de 60 anos, sendo sete acima de 70.

“Apenas” 43 idosos, segundo ele. Como se esse número fosse insignificante. Como se a idade avançada, a saúde debilitada e as circunstâncias individuais dessas pessoas não tivessem o mínimo valor.

Como se a brutalidade dessas penas pudesse ser justificada pela frieza de uma estatística.

Porém, por trás desses números, estão histórias que desmontam a narrativa de Moraes.

Iraci Nagoshi, professora aposentada de 71 anos, foi condenada a 14 anos de prisão apenas por estar no Palácio do Planalto.

Não há registros de vandalismo ou de liderança nos atos – sua simples presença no local foi considerada suficiente pelo STF para taxá-la de golpista. E o pior: sentenciada por “associação criminosa armada” – sem armas, claro.

Outro idoso, de 65 anos, foi preso nos acampamentos e condenado por “associação criminosa”.

Sua saúde debilitada não comoveu Moraes, que já se mostrou implacável ao negar prisão domiciliar, até mesmo para idosos gravemente enfermos.

Essas pessoas não são simples números em uma estatística conveniente, mas vítimas de um tribunal que renunciou a qualquer compromisso com a justiça em nome do poder absoluto, criando um regime autoritário que lhe concede autonomia irrestrita – em flagrante desrespeito à lei.

Moraes tenta convencer a opinião pública de que a ideia de “velhinhas condenadas” é uma invenção, mas ao tratar 43 idosos como um detalhe irrelevante, depõe contra si mesmo, mostrando que não está interessado em justiça, mas sim em consolidar um poder que ignora as realidades humanas, as circunstâncias individuais de cada caso e foca na vingança e na repressão a todo custo.

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